quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Perdido

   Três horas esperando do lado de fora do apartamento dela. Ele não tem mais para onde ir, e sabe que ela não se recusará a abrigá-lo Mas ela não está em casa agora, e ele terá de esperar.
   Ela chega. Vem carregando pesadas sacolas de supermercado e fala ao telefone. Provavelmente com a mãe, pelas caretas que faz. Ele conhece cada traço do rosto dela. Cada expressão facial. Cada sorriso. Não resiste ao impulso de surpreendê-la. Ela se assusta, uma sacola cai. Ele a pega, sem jeito, e pede desculpas. Enquanto ela se recobra e abre a porta, ele pensa em como pôde ter sido tão idiota, de novo.
   Claro, ele pode passar a noite lá. Mas só uma, e no dia seguinte deve procurar outro lugar. O namorado dela chegará amanhã. O namorado. O atual. Ele não conseguia pensar nela com outro cara. Que havia outro em seu lugar. Ele deveria ser a pessoa ao lado dela nas fotos em cima da lareira. Seu par no casamento da melhor amiga. Dele deveria ser a escova de dente ao lado da dela. Nossa, como ela estava bonita. Parecia jovem. Feliz.
   Ele sabia que nunca a faria feliz dessa forma. Era complicado demais. Tinha muitos problemas, alguns que até mesmo não queria resolver. Ela não merecia isso, por isso terminaram. Ela liga o chuveiro. Ele faz força para não escutar, liga a televisão. Assiste a dois filmes de comédia romântica, mas só consegue pensar nela. E nela assistindo aos filmes com o namorado atual. Então ele percebe: não pode ficar ali.
   Dorme num hotel de beira de estrada. Usou o dinheiro que lhe restava. Pediu carona e cruzou o estado. Não sabe para onde vai, e tenta esquecer-se de onde veio.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Filme: A Família Bélier


   Não sou muito de assistir a filmes franceses, mas resolvi dar uma chance a esse, por ter ouvido ótimas críticas e por ser do mesmo diretor de Intocáveis, Eric Lartigou. Fui sem saber quase nada da história, e me surpreendi.
   Paula (Louane Emera), 16 anos, é a filha mais velha de uma família de surdos, e a única que escuta e fala, então serve como intérprete dos pais e do irmão para tudo. Eles moram no interior, e sobrevivem vendendo queijos em uma feira local.  Na volta às aulas, Paula resolve participar do coral da escola para ficar perto do garoto de quem gosta, e tem uma surpresa quando seu professor reconhece nela uma verdadeira artista. Ela então começa a treinar escondido para um concurso de uma rádio parisiense, e precisa enfrentar o preconceito dos pais para com esse mundo não-surdo.
  O elenco é meio desconhecido, mas não tenho reclamações. A própria Louane foi descoberta no The Voice francês. A trilha sonora, uma das minhas coisas preferidas sobre o filme (estou ouvindo agora, inclusive), é emocionante, mas pode cansar um pouco por ser repetitiva.
   Apesar do enredo simples e do final um pouco previsível, o filme rende boas reflexões para toda a família, e nos diverte e emociona na medida certa. Todos saíram do cinema com lágrimas nos olhos, e eu saí com a sensação de ter visto um dos meus favoritos do ano.


   

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Resenha: Fangirl - Rainbow Rowell

 
 Depois de ler “Anexos”, fui correndo procurar os outros livros da autora publicados no Brasil. Como quero muito ler “Eleanor & Park”, deixei esse por último e li “Fangirl”, outro sobre o qual só ouvi coisas boas.
   O livro conta a história de Cath, escritora de fanfics recém-chegada à faculdade, passando por vários aspectos da vida dela, como a relação com a irmã gêmea idêntica, Wren, o pai instável, a mãe ausente, garotos, professores e provas. Alguns aspectos do livro podem parecer “mais do mesmo”, mas acho que a autora foi bastante original, principalmente na reflexão sobre as fanfics serem plágio ou não. Sobre esse assunto, vou indicar um vídeo de uma das minhas booktubers favoritas, Ariel Bissett, em que ela aborda a questão de fanfics serem literatura (vídeo em inglês).
   De imediato já bateu aquela identificação com a personagem principal, Cath. Tirando o fato de escrever fanfics, acho que somos bastante parecidas (escritoras, antissociais e com medo de mudanças). Esse laço com a personagem, as partes de romance e a colega de quarto de Cath, Reagan (melhor personagem do livro), foram o que me mantiveram lendo até o fim.
   Não sei se foi porque li pelo celular, e não o livro físico, mas senti falta de alguma coisa, e as partes das fanfics e do livro em que elas são baseadas (uma espécie de Harry Potter fictício-fictício ops) não me agradaram muito, cheguei a querer pular algumas partes direto para o próximo capítulo. Acho que foi uma coisa bem pessoal minha (ou do meu cérebro, que entrou em pane mudando a chavinha jovem adulto contemporâneo – fantasia). Mesmo assim tenho de reconhecer o trabalho muito bem feito da autora ao criar três histórias dentro de uma só.
   Uma das cenas de que eu mais gosto é a que explica os nomes das personagens principais, Cath e Wren. Talvez ela seja considerada banal no decorrer do livro, mas me fez sorrir e ficar pensando naquilo por um bom tempo.
   Mesmo que esse livro não chegue ao top 10 do ano, foi, no geral, uma leitura muito boa.


sábado, 10 de janeiro de 2015

Bicho-papão

    E assim começa mais um capítulo. Não sei bem o que escrever, na verdade. Espero um resultado bom saindo dessa mistura de palavras aleatórias. Esse, poderíamos dizer, é o meu “estilo”. É uma coisa frequente, essa de jogar palavras no papel e ver que bicho vai sair dali. Às vezes, é um bicho mansinho e fofinho, que vem até você pedindo carinho e atenção. E você dá isso a ele, porque é sua criação, e ele cresce forte e saudável. Outras, o bicho  vem como  algo indescritível, um bicho-papão escondido no seu armário, desesperado para sair. Você luta contra ele. Sabe que provavelmente não vai vencer. E não vence mesmo. E é nesse momento que você publica aquele texto horrível, que tem vergonha de ler até quando está sozinha, e, quando passa por ele anos depois, pensa “Como essa coisa veio parar aqui? Como eu tive coragem?”. Mas você deixa ele lá, porque não importa, realmente. E é por isso que escrever sempre nos traz surpresas, e a cada texto novo nos deparamos com um lado nosso desconhecido. Não sei se escrever é bom, mas certamente não  é ruim.

Resenha: Anexos - Rainbow Rowell

   
    Depois de só ouvir coisas fantásticas sobre a Rainbow Rowell, fiquei morrendo de vontade de finalmente ler um livro escrito por ela. Acabei, sem querer, começando em ordem cronológica, porque o primeiro livro que ela escreveu só foi lançado aqui no Brasil no final do ano passado. Foi a decisão certa, porque eu absolutamente AMEI o livro. Ele foi o responsável por me tirar da ressaca literária eterna em que eu estava.
     A história se passa na virada do milênio, quando a internet ainda era novidade, e possui três personagens principais: Lincoln, Beth e Jennifer. As duas amigas vivem trocando e-mails no trabalho, e Lincoln tem a tarefa de ler todos os e-mails da empresa. Ele começa a acompanhar a conversa das duas, mas quando percebe que está indo longe demais, não consegue mais parar. Está apaixonado.
    Aí rolam muitas confusões, encontros e desencontros. O livro é muito engraçado, um chick-lit mesmo. Segue um caminho um pouco diferente dos outros livros da autora, que são young adult.
    Eu ria alto em algumas partes. Não tem como não se apegar aos personagens, e você torce até o fim para que dê certo. Suuper recomendo, principalmente naqueles momentos de pausa entre leituras mais pesadas.