Três horas esperando do lado de fora do
apartamento dela. Ele não tem mais para onde ir, e sabe que ela não se recusará
a abrigá-lo Mas ela não está em casa agora, e ele terá de esperar.
Ela chega. Vem carregando pesadas sacolas de
supermercado e fala ao telefone. Provavelmente com a mãe, pelas caretas que
faz. Ele conhece cada traço do rosto dela. Cada expressão facial. Cada sorriso.
Não resiste ao impulso de surpreendê-la. Ela se assusta, uma sacola cai. Ele a
pega, sem jeito, e pede desculpas. Enquanto ela se recobra e abre a porta, ele
pensa em como pôde ter sido tão idiota, de novo.
Claro, ele pode passar a noite lá. Mas só
uma, e no dia seguinte deve procurar outro lugar. O namorado dela chegará
amanhã. O namorado. O atual. Ele não conseguia pensar nela com outro cara. Que
havia outro em seu lugar. Ele deveria ser a pessoa ao lado dela nas fotos em
cima da lareira. Seu par no casamento da melhor amiga. Dele deveria ser a escova
de dente ao lado da dela. Nossa, como ela estava bonita. Parecia jovem. Feliz.
Ele sabia que nunca a faria feliz dessa
forma. Era complicado demais. Tinha muitos problemas, alguns que até mesmo não
queria resolver. Ela não merecia isso, por isso terminaram. Ela liga o
chuveiro. Ele faz força para não escutar, liga a televisão. Assiste a dois
filmes de comédia romântica, mas só consegue pensar nela. E nela assistindo aos
filmes com o namorado atual. Então ele percebe: não pode ficar ali.
Dorme num hotel de beira de estrada. Usou o
dinheiro que lhe restava. Pediu carona e cruzou o estado. Não sabe para onde
vai, e tenta esquecer-se de onde veio.