quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Perdido

   Três horas esperando do lado de fora do apartamento dela. Ele não tem mais para onde ir, e sabe que ela não se recusará a abrigá-lo Mas ela não está em casa agora, e ele terá de esperar.
   Ela chega. Vem carregando pesadas sacolas de supermercado e fala ao telefone. Provavelmente com a mãe, pelas caretas que faz. Ele conhece cada traço do rosto dela. Cada expressão facial. Cada sorriso. Não resiste ao impulso de surpreendê-la. Ela se assusta, uma sacola cai. Ele a pega, sem jeito, e pede desculpas. Enquanto ela se recobra e abre a porta, ele pensa em como pôde ter sido tão idiota, de novo.
   Claro, ele pode passar a noite lá. Mas só uma, e no dia seguinte deve procurar outro lugar. O namorado dela chegará amanhã. O namorado. O atual. Ele não conseguia pensar nela com outro cara. Que havia outro em seu lugar. Ele deveria ser a pessoa ao lado dela nas fotos em cima da lareira. Seu par no casamento da melhor amiga. Dele deveria ser a escova de dente ao lado da dela. Nossa, como ela estava bonita. Parecia jovem. Feliz.
   Ele sabia que nunca a faria feliz dessa forma. Era complicado demais. Tinha muitos problemas, alguns que até mesmo não queria resolver. Ela não merecia isso, por isso terminaram. Ela liga o chuveiro. Ele faz força para não escutar, liga a televisão. Assiste a dois filmes de comédia romântica, mas só consegue pensar nela. E nela assistindo aos filmes com o namorado atual. Então ele percebe: não pode ficar ali.
   Dorme num hotel de beira de estrada. Usou o dinheiro que lhe restava. Pediu carona e cruzou o estado. Não sabe para onde vai, e tenta esquecer-se de onde veio.

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